NARRAÇÃO DA ENFERMIDADE COMO DRAMA INTERIOR EM "DE PROFUNDIS: VALSA LENTA", DE JOSÉ CARDOSO PIRES

Alex MARTONI, Gessilene Zigler FOINE

Resumo


Este artigo se propõe a refletir sobre as possibilidades e os limites que a linguagem oferece na representação da experiência do adoecimento a partir do relato do escritor português José Cardoso Pires, em seu livro De profundis: valsa lenta (1995), no qual relata a perda da memória e da percepção da realidade ao sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). O interesse pelas relações entre vida e obra vem sendo renovado nos estudos contemporâneos de literatura, uma vez que há forte expansão nas formas de exposição pública da intimidade, como os diários, os blogs e as autobiografias. Nesse sentido, tornou-se fulcral perguntarmo-nos sobre o que os modos de representação e construção da intimidade nos revelam sobre os próprios processos de produção de subjetividade, aquilo que o filósofo Michel Foucault (2004) designou como escritas de si. No que diz respeito, particularmente, às formas de escrita, interessa-nos compreender como o autor em questão transfigura as vivências íntimas do adoecimento por meio da mobilização de um conjunto de técnicas narrativas, como o fluxo de consciência, a construção do duplo e o emprego de tropos linguísticos. Desse modo, buscamos refletir sobre os limites e as fissuras que a representação da experiência do adoecimento impõe ao plano da linguagem.

Palavras-chave: Relatos de adoecimento. De profundis: valsa lenta. José Cardoso Pires.


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