"DESTA TERRA NADA VAI SOBRAR": O EFEITO DE REAL NA DISTOPIA DE IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

CINTIA TAVARES COELHO BORGES

Resumo


Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela, objeto principal desta pesquisa, foi escrito por Ignácio de Loyola Brandão e lançado no ano de 2018. A obra é uma distopia brasileira que se passa num futuro indeterminado no qual todas as pessoas são monitoradas por tornozeleiras eletrônicas desde o nascimento, todos os políticos são corruptos e os idosos podem optar pela autoeutanásia. O texto, apesar de ser uma obra literária ficcional, faz diversas referências a acontecimentos passados no Brasil, tanto aos de cunho político, quanto aos de natureza ambiental e policial. Com relação aos personagens, destacam-se os dois protagonistas, Clara e Felipe, um casal cujo relacionamento desgastou-se ao longo dos anos, de modo que a moça opta pelo término, enquanto o rapaz tenta restaurar a relação. Nesse contexto é que somos apresentados a um Brasil de características não muito diferentes das do país do início do século XXI, tendo os seus problemas sócio-políticos amplificados na obra literária. Percebemos que a narrativa de Loyola Brandão permite uma discussão aprofundada sobre os conceitos de utopia e distopia, já que evoca esses dois termos explorados em diversas obras literárias do século XX e XXI, inclusive em dois outros romances anteriores do autor: Zero (1976) e Não verás país nenhum (1982), obras que, do ponto de vista cronológico e temático, antecipam a narrativa mais recente. As distopias de Brandão nos alertam, como normalmente o fazem as obras do gênero, que, se o nosso mundo reproduzir determinadas posturas políticas, ambientais e sociais, poderemos nos transformar em uma sociedade como a retratada na ficção, em que as pessoas são vigiadas, monitoradas e controladas de muitas maneiras, colocando em xeque, sempre, o conceito de liberdade. Análogas às experiências traumáticas da realidade, as obras distópicas suscitam uma discussão que retoma a necessidade e a verossimilhança aristotélicas, assim como o efeito do real barthesiano, de modo que esta pesquisa parte da observação das estratégias narrativas criadas por Brandão em Desta terra nada vai sobrar..., e as posiciona como desfechos das estratégias utilizadas nas duas primeiras obras.

Palavras-chave: Brandão;Distopia;Arquivo;Efeito de real;Verossimilhança



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Referências


JULIANA GERVASON DEFILIPPO Orientadora

ALEX SANDRO MARTONI Docente

EVANDRO JOSE MEDEIROS LAIA Participante Externo

Data de defesa: 30/08/2021


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