Resumo
Em seu trabalho paradigmático, Introdução à Literatura Fantástica (1992), Todorov propõe uma sistematização de conceitos até então discutidos por longa tradição de críticos – e ficcionistas – que se dedicaram ao estudo desse gênero narrativo. Essa sistematização cai por água abaixo diante das narrativas de Kafka, para quem, segundo o pesquisador búlgaro, o irracional é utilizado como parte de um jogo. Esse novo fantástico, para Todorov, é diferente daquele até então estudado. O trabalho apresentado tem por objeto a narrativa “A Usina atrás do Morro” do escritor José J. Veiga. Na narrativa veigueana, fábricas invadem sociedades isoladas – metonimicamente, as cidades do interior goiano -, perturbando-as. O elemento fantástico, tal como em Kafka, irrompe na narrativa para instaurar/denunciar o irracional, o incomum, em suma, o insólito que faz parte do cotidiano. Em suas narrativas, esses escritores recorrem ao fantástico como estratégia para problematizar a sociedade (ARÁN, 1999, p.53), tornando possível a percepção de novos vieses, ampliando a interpretação de dados acontecimentos, como a descoberta de que o avanço tecnológico também é uma forma de dominação.