A POESIA DO CANTO: DA FENOMENOLOGIA DE BACHELARD A GRACILIANO RAMOS
Resumo
Atidos à temática memórias da infância, analisamos o conto Um cinturão, do livro Infância (2003), de Graciliano Ramos, que narra, em tom memorialístico, a descoberta do mundo dos adultos. O livro, primeiramente publicado pela Editora José Olympio em 1945, hoje está em sua quadragésima oitava edição, pela Record, tendo sido levado a público em países como Argentina, França, Portugal, Holanda e Inglaterra. O conto narra um episódio dramático na vida de um menino: surrado, encolhido entre caixotes, ele compreende que aquela fora sua primeira aproximação com a justiça, no máximo entendimento que Júlio Cortázar (2006) afere: o de intensidade, ou seja, o pulsar da substância narrativa, núcleo ao redor do qual orbitam os demais elementos. O enfoque analítico desvenda a relação da memória com o canto a serviço da imaginação poética, pleiteada por Gaston Bachelard em sua Poética do espaço (1978), sugerindo, assim, uma topoanálise do conto mencionado. Considerando a fenomenologia da imaginação de Bachelard (1978), analisamos os percursos da memória do narrador do conto a partir da adesão, enquanto leitores, à imagem poética do espaço íntimo do canto. Perseguindo esse propósito, nos debruçamos sobre o entendimento da imagem poética do canto para diluir o emaranhado narrativo que permite acessar, na virtualidade admissível, as múltiplas texturas com as quais as memórias da infância se revestem.
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