LIMITES DAS IMAGENS, ECOS DAS PALAVRAS: LEITURA DE UM FILME DE ISABEL COIXET
Resumo
No momento de consolidação dos processos de mundialização, os impulsos de reconhecimento identitário não são mais possíveis e a origem só pode ser percebida como traços, restos acessíveis pela memória, que, por sua vez, deve tecer uma narrativa que a recomponha. É o que parece propor Isabel Coixet em seu filme A vida secreta das palavras (2005), no qual uma enfermeira seletivamente surda e um homem provisoriamente cego buscam (re) estabelecer suas identidades e (re) compor suas histórias pessoais, numa narrativa permeada pela apropriação de textos literários. Neste artigo, busca-se mapear, na narrativa cinematográfica de Coixet, o resgate da história pessoal e coletiva por meio da memória de leituras. Compreende-se memória de leituras como a possibilidade de se vislumbrar situações de leitura, suas relações de propriedade e suas apropriações (PIGLIA, 2006) que configurariam uma tradição pessoal, marcada pela escolha através do afeto. Talvez atribuição fundamental da literatura, talvez uma das possíveis respostas para a constante pergunta equacionada por Antoine Compagnon (2012) em Literatura para quê? Em nossa hipótese, a possibilidade de a literatura servir de ponte comunicativa entre as pessoas está presente na apropriação que a cineasta realiza no filme do texto atribuído à Mariana Alcoforado, Cartas portuguesas, e do conto de Julio Cortázar, Senhorita Cora, principalmente. Nesse sentido, as citações dos textos literários comporiam o lugar em que as possibilidades de encontro com o outro se apresentam.
Palavras-chave: Cinema. Literatura. Intermidialidade.
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