O LU(G)AR DOS SERTÕES

Gilberto Mendonça Teles

Resumo


A palavra sertão tem servido, em Portugal e no Brasil, para designar o “incerto”, o “desconhecido”, o “longínquo”, o “interior”, o “inculto” (terras não cultivadas e de gente grosseira), numa perspectiva de oposição ao ponto de vista do observador, que se vê sempre no “certo”, no “conhecido”, no “próximo”, no “litoral”, no “culto”, isto é, num lugar privilegiado — na “civilização”. É uma dessas palavras que traz em si, por dentro e por fora, as marcas do processo colonizador. Ela provém de um tipo de linguagem em que o símbolo comandava a significação (re)produzindo-a de cima para baixo, verticalmente, sem levar em conta a linguagem do outro, do que estava sendo colonizado. Refletia na América o ponto de vista do europeu — era o seu dito (ou seu ditado), enquanto nas florestas, nos descampados, nas regiões tidas por inóspitas, de vegetação difícil, se ia criando a subversão de um não-dito nativista e sertanista que se tornou um dos mais importantes signos da cultura brasileira, sobretudo depois que Euclides da Cunha, no início do século XX (1902), publicou o seu livro magistral, Os sertões. Seguindo o registro dos cronistas e viajantes, dos poetas e dos historiadores da literatura, chega-se à questão do diálogo entre o homem e o sertão, melhor, entre os sertões em que se vai fragmentando o interior do Brasil.

Palavras-Chave: Euclides da Cunha, sertão, Os sertões, Os Lusíadas.


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