A PALAVRA HABITADA: A ENUNCIAÇÃO NARRATIVA DE UM XAMÃ EM A QUEDA DO CÉU
Resumo
A obra A queda do céu – palavras de um xamã yanomami, escrita a partir da parceria entre um etnógrafo e um indígena, é fruto de uma narrativa oral em que sobressai o discurso em primeira pessoa de Davi Kopenawa que, por sua vez, assume desde a voz dos animais e da floresta até a voz coletiva de seu povo. Trata-se também de uma obra autobiográfica em que o protagonista conta como se tornou um xamã após deixar o convívio com brancos. Este artigo busca revelar como Davi se enuncia ao apresentar para o leitor branco a sua perspectiva sobre o mundo. Considerando o título de um dos capítulos do livro, A imagem e a pele, objetiva-se utilizar essa metáfora percebendo as relações estabelecidas entre a escrita e as vozes encenadas pelo narrador. Referindo-se ao gesto do homem branco de imprimir no livro suas tradições para que não as esqueça, em oposição ao que fazem os yanomami, Davi enuncia a seguinte sentença: “Eu, um Yanomami, dou a vocês, os brancos, esta pele de imagem que é minha” (KOPENAWA, 2015, p. 66). Por isso mesmo, por meio desta narração que se dá numa inversão de papéis, ao leitor é oferecida uma visão de mundo construída a partir da perspectiva de um indígena. Tal abordagem constitui-se em paradigma cultural importante na instituição de outros referenciais simbólicos por meio dos quais o indígena/autor demarca seu lugar de enunciação, chamando o branco à sua responsabilidade em modificar o próprio olhar em relação à cultura ameríndia, sob pena de extinguir-se todos, indígenas e não-indígenas.
Palavras-chave: Literatura indígena. Enunciação. Yanomami. Davi Kopenawa. A queda do céu.
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