MATERIALIDADES DE UMA IMAGEM-FALTANTE: DOUGLAS GORDON E JONAS MEKAS

Barbara Cristina MARQUES

Resumo


No contexto das materialidades dos media, este artigo traz uma leitura de I Had Nowhere To Go: Portrait of a displaced person (2016), filme do videomaker escocês Douglas Gordon, baseado no livro-diário homônimo de Jonas Mekas. A poética de exílio dos diários escritos de Mekas é encenada ali como pequenos corpos que ora se acendem, ora se apagam. Escrito entre 1944 e 1955, I had nowhere to go (1991) reúne as experiências de Mekas nas paisagens dos campos de concentração nazistas desde sua saída da Lituânia. O trabalho de Gordon com o cinema é pretensioso e altamente tecnológico/digital. Os filmes, a exemplo de 24 Hour Psycho, tornam-se outros objetos sendo ainda eles mesmos, impondo aos pesquisadores de cinema pensar o lugar desse “cinema de sensações”. Nesse sentido, parece haver um hiato entre os trabalhos experimentais de Gordon e os tais “lampejos de felicidade” saídos da câmera Bolex 16mm do diarista. No entanto, os silêncios, o exílio, o deslocamento, a solidão de Mekas transformam-se uma vivência sensorial e corpórea no trabalho de Gordon. Busca-se, portanto, refletir sobre o modo como esses novos regimes de visualidade, a partir de imagens imprecisas, precárias e “faltantes”, afetam nossos corpos enquanto experiência sensorial e perceptiva implicada na materialidade do meio.

ABSTRACT

In the framework of the media materialities, this paper is a reading of I Had Nowhere To Go, by the scottish videomaker Douglas Gordon, a film based on Jonas Mekas' eponymous book. The poetics of exile from the diaries written by Mekas are portrayed there as small bodies that now light up, sometimes fade. Written between 1944 and 1955, I had nowhere to go (1991) collates Mekas' experiences in the landscapes of nazi concentration camps since his departure from Lithuania. Gordon's work with the cinema is pretentious and highly technological / digital. The films, like 24 Hour Psycho, while still being themselves mutate into other objects, imposing on cinema theorists to ponder about the place of this "cinema with sensations". In this respect, there seems to be a gap between Gordon's experimental works and such "flashes of happiness" from the diarist's Bolex 16mm camera. However, the silences, the exile, the displacement, the solitude of Mekas all become a sensorial and corporial experience in Gordon's work. Under the unmistakable accent of Mekas, the wording invades the black screen in a process of metaphorization of the absences. Therefore, I try to discuss the ways by which these new patterns of visibility from imprecise, precarious, lacking images affect our bodies as a perceptive and sensorial experience due to the materiality of the medium.

Keywords: Materialities. Jonas Mekas. Douglas Gordon.


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