O MAL-ESTAR NA CONTEMPORANEIDADE: SOFRIMENTOS NARCÍSICOS E SEUS DESAFIOS AO DISPOSITIVO ANALÍTICO
Resumo
O presente trabalho consiste em uma revisão narrativa de literatura com o objetivo de examinar as conformações peculiares que o mal-estar assume na contemporaneidade e discutir os desafios impostos por elas ao dispositivo analítico tradicional. Com base no entendimento de que o contexto histórico-cultural impacta profundamente a constituição das subjetividades e os modos de sofrimento psíquico que lhes são próprios, procurou-se examinar como o cenário contemporâneo produz sujeitos e padecimentos cada vez mais diversos daqueles da modernidade tardia, a partir de cujo estudo e tratamento Freud desenvolveu o modelo tradicional de trabalho analítico. Nesse sentido, abraçou-se o argumento de que as modalidades mais típicas de sofrimento psíquico na atualidade já não tem têm tanto como cerne a trama edípica de conflito entre desejo, culpa e proibição (cujo protagonismo na configuração das subjetividades e adoecimentos psíquicos modernos foi estabelecido por Freud), estando, em vez disso, muito mais relacionadas à problemática narcísica – centrada nas dificuldades na constituição de um Eu unificado e estável, na perda das referências identificatórias e no enfraquecimento da capacidade de simbolização. Diante disso, discute-se como o dispositivo analítico clássico – desenvolvido originalmente para o tratamento de padecimentos fundamentados no Édipo – demanda certas atualizações para manter sua efetividade em face desses novos quadros clínicos marcados pelo sofrimento narcísico, concluindo-se pela necessidade de se pensar o setting analítico, em tais casos, mais como um espaço para arranjos do narcisismo que possibilitem a invenção de si do que para o desvelamento do desejo do analisando e sua responsabilização por ele.
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