Abordando a educação profissional de adolescentes sob vulnerabilidade social.

Tarcísio Corrêa de Brito, Vera Helena Barbosa

Resumo


Foram realizadas 48 horas e 22 minutos de observação de adolescentes entre 14 e 19 anos em pré-qualificação e em aprendizagem industrial, participantes de um projeto de inserção profissional destinado ao mercado de trabalho da cidade de Juiz de Fora e região – resultado de uma cooperação interinstitucional entre os Poderes Executivo e Judiciário, em nível federal, estadual e municipal, com a adesão da iniciativa privada local. O objetivo principal foi observar e analisar o comportamento de adolescentes em situação de vulnerabilidade social (que cumprem medidas socioeducativas) em um programa de pré-qualificação e outro de profissionalização. As observações ocorreram nos espaços pedagógicos (pré-qualificação e profissionalizante) de instituição de semiliberdade e de ensino profissionalizante em Juiz de Fora, além de acompanhamento online de turmas em atividades remotas, onde outros adolescentes foram inseridos. Houve a necessidade de se empreender uma revisão bibliográfica sobre vulnerabilidade social, educação, adolescência e psicanálise. Com isso, foi possível problematizar de que maneira esse sujeito adolescente, em seu processo singular de constituição, se comporta e interage durante o processo de aprendizagem de modo geral. É importante identificar, inclusive, como o próprio ambiente pedagógico pode interferir e pautar a qualidade de seu engajamento efetivo. Afinal, a sociabilidade responde às necessidades da democracia, das trocas afetivas e da autonomia do sujeito. Se por um lado, a pedagogia permite ao indivíduo explorar sua personalidade integral, como reconhece Sándor Ferenczi (1873-1933); por outro lado, para August Aichhorn (1878-1949), ela deve objetivar a civilizar o ser pulsional (carga de energia que se encontra na origem da ação motora do organismo e do funcionamento psíquico inconsciente do homem) desse sujeito sintoma social, uma espécie de combate constante contra as pulsões infantis. A música foi um aliado didático durante as formações, detectando-se deficiências quanto ao letramento digital. Foi possível, por intermédio da observação dos adolescentes selecionados, perceber que suas próprias características e histórias de vida ofereceram uma chave importante para que se pudesse refletir acerca de seus processos de subjetivação, a partir de seu pertencimento a determinados territórios geradores de histórias de vida. Os comportamentos desviantes desses adolescentes não deveriam se reduzir exclusivamente à tutela normativa e à responsabilização institucionalizada pouco problematizada. Tornar-se-á possível com a educação fazer barreira à pressão das pulsões – em busca de uma adaptação social - e, por intermédio da psicanálise, permitir o reconhecimento do jogo de forças que encontra sua expressão em determinados comportamentos desviantes, a partir de motivações inconscientes – garantindo-se a responsabilização, mas não reduzindo os adolescentes à repetição de seus atos e à marginalidade, margem para a qual já foram ex ante arremessados. Novas observações e novas pesquisas serão necessárias para buscar compreender essa realidade complexa.

 

Palavras-Chave: Vulnerabilidade Social. Adolescente. Educação. Psicanálise.


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