A intersecção entre o feminino e a deficiência

Luciene Corrêa de Miranda Moreira, Ana Beatriz de Oliveira Ferreira, Fernanda Burack da Costa, Laura Fernandes Martins, Taynara Maria Batista, Vitória de Oliveira Ribeiro

Resumo


O presente trabalho objetiva contribuir para a interface gênero e deficiência, bem como fomentar questionamentos sobre o formato atual de construção das mulheres com deficiência, aliando o segundo modelo social de deficiência (DINIZ, 2007) aos estudos feministas interseccionais. Trata-se de um estudo bibliográfico, embasado em referenciais científicos, que visa relacionar as temáticas mulher/feminino e deficiência. As definições de deficiência e gênero sofreram transformações, possibilitando a ampliação de conhecimentos na área e a oxigenação de discursos.  Inicialmente, no modelo biomédico, o conceito atribuía a deficiência a uma falta ou incapacidade da pessoa que a detém. Já o modelo social considera a deficiência como a interação entre um impedimento (do corpo) e as barreiras presentes na sociedade, o que dificulta o pleno convívio social da pessoa com deficiência (PcD). Em sequência, o paradigma dos direitos humanos reconhece a opressão sofrida pelas PcD e postula que a restrição de participação determina a desigualdade imposta pela deficiência (SASSAKI,  2003;  DINIZ,  BARBOSA,  SANTOS,  2009).  Uma segunda geração do modelo social – destacam-se autoras, inclusive mães de PcD  –  critica o  primeiro modelo social e propõe uma discussão  ampliada sobre o que significa viver em um corpo deficiente ou lesado. Neste modelo, o conceito de deficiência relaciona-se a outros princípios, inclusive papel de gênero (DINIZ, 2007) – relacionando os temas investigados neste trabalho. A partir de dois modelos sociais, começou-se a costurar uma visão mais robusta e completa sobre corpos e suas multiplicidades de existência. Inicialmente, a sociedade dispunha do modelo biomédico para produção de manejos e conceitos sobre os fenômenos individuais, o que resultava em exclusão, negligência e preconceito, pois a PcD era vista  como  incapacitada, lesada, incompleta  (GOMES  et  al.,  2019). A compreensão deve ir além, pois, ao se pensar o espectro da feminilidade em um corpo com deficiência, consideram-se aspectos que tangem a construção social e histórica da própria feminilidade. Foi o Feminismo quem levantou a bandeira da subjetividade na experiência do corpo lesado, o significado da transcendência do corpo para a experiência da dor, forçando uma discussão não apenas sobre a deficiência, mas sobre o que significa viver em um corpo doente ou lesado. (DINIZ, 2007).  Devido à promoção da beleza harmônica herdada dos gregos até hoje, a manifestação da deficiência lesiona o conceito e a idealização  de  corporeidade  grega, eugenicamente  tão  enraizados  nas pessoas. (AMARAL, 1995; SILVA, 1986 apud MELLO; NUERBERG, 2012). Considerando-se ambas as opressões que acometem mulheres com deficiência e aspectos que inviabilizam uma existência autônoma no que tange os direitos reprodutivos-sexuais, a liberdade de ir e vir e as possibilidades de inclusão no mercado de trabalho - entendendo e  resguardando “deficiência”  enquanto um aspecto múltiplo e diverso - é necessário  desnaturalizar  processos  opressores  que  dizem  respeito  à existência desse corpo. Assim, é possível compreender essa mulher como um ser subjetivo desejante - que está muito além de seu corpo - e que deve ser incluído dentro de suas possibilidades, principalmente, respeitando seu corpo enquanto muito além de uma externalização estética.

 

Palavras-chave: Deficiência. Feminino. Mulher.


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