Filme “Um Estranho em Mim”: uma análise sob o Método Esther Bick

Camila Ferreira Vieira de Rezende, Mylena Cordeiro de Oliveira, Anna Costa Pinto Ribeiro

Resumo


O método de observação da relação mãe- bebê foi proposto pela psicanalista Esther Bick ao perceber a importância do sentimento do observador em relação a díade.  Sendo assim, antes de ter acesso ao conteúdo teórico com embasamento científico sobre os bebês era necessária uma observação num ambiente natural e familiar para ambos, a fim de identificar como se apresenta o processo de cuidado, de maternagem e qual o efeito desta experiência para a pessoa que se propõe a testemunhar esse vínculo. Tendo em vista a impossibilidade da observação presencial por conta da pandemia que assola o momento presente, o método foi realizado com algumas adaptações para a modalidade à distância. Baseado nisso, utilizamos a obra cinematográfica alemã ‘Um Estranho em Mim’ para analisar por meio de um olhar cuidadoso os acontecimentos da trama, buscando observar em nós o efeito de cada situação através das sensações e sentimento simultâneos as cenas. O enredo se desenvolve com o protagonismo de uma mãe que é atravessada pela depressão pós- parto, resultando em significativos desdobramentos nos cuidados e na relação primordial. As cenas indicam situações particulares que impactam nos sentimentos do observador, efeito disso, a proposta de utilizar o método para análise. Partindo desse pressuposto, foi possível realizar uma articulação teórica baseada nos impactos da observação. Em consonância com o exposto, deve- se ponderar que a desarmonia na díade mãe-bebê por vezes interferiu no desenvolvimento do mesmo, incorrendo na dificuldade em ganhar peso, não apenas por fatores orgânicos relacionados às necessidades básicas de alimentação, mas por pouco investimento libidinal, narcisação, de supor um sujeito por parte da mãe sobre ele. Uma comunicação dificultada por recusar de forma ativa as solicitações de construir um laço. Ainda há que considerarmos sob a ótica do senso comum, do mito do amor materno, que se apresenta por uma série de julgamentos e preconceitos em relação a vivência dessa mãe, ao apresentar comportamentos atípicos no que tange em a maternidade, contrário aquilo que é esperado pela sociedade, ensejando muitas vezes uma postura pouco empática no trato com essa mãe, convocada a “assumir a responsabilidade” sem contudo apresentar condições psíquicas para este cuidado. A observação de bebês pelo método Esther Bick, nesse sentido, contribui muito para a formação profissional, pois permite o contato com os sentimentos contra- transferenciais ao observar a relação se estruturando, de como tolerar sua própria ansiedade diante do fenômeno, num processo contínuo de autoconhecimento das questões que ainda precisam ser ressignificadas no que tange a própria maternagem recebida pelo observador.

Palavras- chave: Observação. Contratransferência; Vínculo- Mãe/bebê.


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